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O olhar que vem do chão

Kico Santos

15/06/2018 04h17

Foi filmando o chão que tive a ideia de filmar do chão. Na época a gente fazia esse vídeo com a música da Céu, Streets Bloom. A câmera sempre apontando para baixo acompanhando os passinhos da Pri Ballarin. Decidimos experimentar uma caminhada invertida com o céu no lugar do chão. Então escolhemos o prédio do CCBB que na época tinha uns aviões pendurados do chinês Cai Guo-Qiang.

Deixei a GoPro na chão, preparei uma discreta caixinha de papelão e plástico bolha. Queria ao menos um minuto de céu, com o olhar a partir do chão. A brincadeira foi até a primeira pisada que a câmera tomou. Na hora achei que tinha perdido o take. Dias depois, quando eu assistia o material, tomei um susto.. O efeito de um chute na câmera era arrebatador.

Comecei a colecionar Contra-Plongées pela cidade. Do francês, "Plongée" é algo relativo a "mergulho", a câmera que mergulha na direção do ator ou objeto. Ao passo que o Contra Plongée é apontar a lente para o alto, engrandecendo o personagem à sua frente.

Daí que o vídeo é uma coleção de cenas que gravei pelas ruas de São Paulo, com cenários bem característicos, a Estação da Sé, o Ibira. Na maioria das vezes eu ficava escondido mas de olho na câmera. Rolou uma até partida de espiribol com meu amigo Jones lá no seminário de Ibaté, uma das últimas cenas. Alguns lugares eu queria muito ter colocado mas não rolou, como numa esteira de malas do aeroporto. Imagina que cena?

Outro lance legal desse vídeo é que foi o primeiro que a gente fez com criação de trilha. Eu tinha um pouco de receio porque sempre curti uma boa pesquisa de trilha para encontrar o clima do vídeo. Mas o Pedro Rizzi mandou muito bem com seus samplers e afins, compondo atmosferas diferentes ao longo do vídeo. Encaixamos até os skates estalando no chão. Foi o começo de uma parceria que vai longe 🙂

Sobre o autor

Kico Santos é roteirista, diretor, músico e apaixonado por São Paulo. Nas horas vagas, registra o cotidiano da cidade em narrativas curtas e poéticas.

Sobre o blog

Desde 2009 que produzimos vídeos no cotidiano de SP. Um gavião empoleirado na antena do prédio vizinho foi a nossa inspiração. Aficionados pela metrópole e seus tantos cotidianos possíveis, onde encontramos narrativas com um olhar especial e um corte atencioso – um cuidado que aprendemos com o cinema.

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